FOTOGRAFIA

A arte da fotografia é, para mim, registrar a poesia de uma cena no momento em que ela acontece e ter pra sempre aquela imagem, pra vc e pro mundo. Nem sempre consegui registrar as belezas que presenciei na vida. Passei por aventuras espetaculares de toda natureza antes de me tornar fotografa; Como, por exemplo, aos 16 anos de idade, quando passei tempo na favela da Edith junto da finada Nalva, que Deus a tenha, e sua linda familia.

Nalva, que Deus a tenha em bom lugar, era a matriarca de uma família composta por mulheres negras, que tinham caído doentes com o vírus da AIDS. Ela era responsável por todas inclusive 4 meninas, com idades 2,4,6 e 8. Sem o apoio do governo, quebradas finaceiramente, precisando de alimentos e medicamentos para cuidar da família, Nalva teve que recorrer a actividades ilegais para sobreviver e pagar o alto custo dos remédios, mantimentos, material escolar e etc. Elas eram apenas mais uma família vivendo sob o injusto sistema brasileiro de políticas sociais. Com elas eu aprendi o sentido de amizade, aprendi a cozinhar, compartilhar, conviver com a malandragem, ter medo da polícia. Sobreviver com dignidade e a troca de afeto, conhecimentos, tristezas e alegrias sempre foi o objetivo principal entre essas pessoas.

A favela era de uma beleza paradoxal, triste, suja, cheia de medos, ratos e esgoto aberto, povoada por muita gente de bem, linda com esperança no coracão. Dona Vivaldina, Silas, Neguinho, Nego Véio, Neide… são tantas as lembranças. (Até que fui presa pela guarda montada e por ser menor de idade fui trancada em um hospício em Itapecirica da serra até forjar minha fuga e ficar foragida por quase 2 anos no Guarujá) Essa foi a experiencia de vida que tive que mais lamento não ter ainda as habilidades de fotografa pra fazer o registro.

O sentimento de ter imagens incriveis na cabeça que eu jamais terei para dividir é duro de lidar, mas tenho certeza que como diretora de filmes e escritora, vou me beneficiar muito com todos os momentos e pessoas extraordinarias que cruzaram meu caminho antes da fotografia.

Assim que comecei a estudar fotografia, me tornei fotografa. Na época com 17 anos, disputando espaço com profissionais que já estavam estabelecidos no mercado, cometi um erro de principiante fatal; Deixei muitos dos meus negativos originais com as editoras de revistas e jornais para as quais colaborava, porque rolava um: “se não der o original não vamos publicar”. Pra quem ta começando não resta muita opção, ou dá ou desce. Imagino que deve ter muita mulekada começando por aí passando por isso. Tempos depois pude inverter essa mecânica. Negativos originais são jóias raras, guardem consigo, bem e pra sempre!

MARIANAJUSTMARIANA
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